Nunca fiz coleções, mas tenho duas. A primeira, herdei da minha avó, que juntou calendários de bolso até o dia de sua partida. A outra se formou involuntariamente. No depósito lá de casa, guardo três máquinas de escrever que representam a evolução do objeto no século passado. Tem a antigona de teclas redondas e bordas douradas, a portátil bege dos anos 70 e aquela que foi meu melhor presente de formatura – algum dia devo ter beijado minha Praxis 20.
Pelo carinho que o objeto me inspira, adorei seguir a dica do jornalista
Célio Romais. Na última sexta-feira, conheci a oficina de Ebanêz Flores, um dos últimos (se não o último) consertadores de máquinas de escrever de Porto Alegre.
Antes que você pergunte, eu respondo: sim, Ebanêz continua tendo clientes. A cada mês, busca e entrega cerca de 12 máquinas mecânicas, elétricas ou eletrônicas, em residências, órgãos públicos e escritórios de advocacia – já pensou o que é ter duas horas para encaminhar um documento ao juiz, faltar luz e ver, desesperado, que a tela do computador apagou? Quase todas seguem na labuta. Apenas 10%, apesar de ficarem nos trinques, servem apenas para decorar.
Plena função: Cipriano Neto Vargas,
mais conhecido como Jorge, é o único
técnico da casa atualmente
Nada, lógico, se compara ao tempo em que a casa mantinha 17 funcionários e contratos com a Assembléia Legislativa, o Correio do Povo e a Zero Hora. Nos porões do principal jornal gaúcho, por 26 anos, funcionou sua segunda oficina, pronta para resolver perrengues datilográficos urgentes.
Ebanêz e as máquinas mecânicas
“Já que todo mundo está fechando, eu fico”, disse o filho de São Pedro do Sul, quando a concorrência começou a jogar a toalha. Na pequena loja da rua Espírito Santo, ele também comercializa fitas e margaridas, compra e vende máquinas usadas.
E pra quem tem uma calculadora de rolo, a dica de conserto e comércio continua valendo. No rol de clientes de Ebanêz, há um homem que guarda oito exemplares do objeto quase obsoleto, só porque acha bonito.
EBANÊZ FLORES TÉCNICA SULINA
Rua Espírito Santo, 394, Centro
(51) 3221.5378
seg. a sex. 8h30 às 11h30 e 13h30 às 18h