quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O afinador de pianos

Jamais desconfiei que o interior de um piano dava pistas da sua história. Pura ignorância minha, remediada quando visitei a casa-oficina de Pedro Bichels. Abrindo a tampa do instrumento, a gente encontra assinaturas dos afinadores que passaram por aquelas teclas. Ao lado de cada nome, consta a data da regulagem.



“Pego pianos que meu avô afinou, às vezes no mesmo dia, cinqüenta anos atrás”, me disse Adriano Bichels, herdeiro do ofício que está na família desde o início do século passado. Assim como o pai, ele atravessa o Rio Grande do Sul com seu arsenal discreto. Munido de diapasão, chaves de pressão e varetas para isolar as cordas, aproxima o ouvido do som. Ouve apenas o que quer. E coloca todas as notas no lugar.

Enquanto morava em Porto Alegre, passei pelo local muitas vezes. Nada diz que ali, numa residência, há mais pianos do que móveis. Boa parte das peças chega para restauração. Outro tanto integra o acervo alugado por shopping centers, hospitais, escolas e aprendizes. Zelosos que são, os Bichels não fazem locação para bares: “as pessoas bebem, fumam, deixam [o piano] aberto e cai cinza, copo, tudo”.

Mesmo que você só saiba dedilhar o dó-ré-mi, visite o site da empresa e leia, ouvindo música clássica, a história do dia em que Pedro foi chamado para resolver o mistério do piano fantasma – por que, ó céus, as teclas tocavam sozinhas, ao redor da meia-noite? Sem esperar pelas doze badaladas, o afinador deu a receita certeira: coloque ratoeiras ao lado.

PEDRO BICHELS PIANOS
Rua Passo da Pátria, 342, Bela Vista
(51) 3332.3240 e 9122.7957
com hora marcada

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