Já sei o que vou dar de Natal para meus amigos não-secretos. Quem tem a sina de gostar de mim, traduzirá meu afeto em cinqüenta minicontos, cada um com até cinqüenta letras, todos reunidos numa caixa de fósforos.
Ontem pela manhã, nem eu imaginava tal presente. A decisão veio depois, na minha ronda diária por blogs bem bons, quando li sobre o Dois Palitos. O livro que Samir Mesquita concebeu, escreveu, produziu e distribui sem nenhuma editora está, sim, à venda em Porto Alegre.
Para saber mais, bastaria ler as matérias que a Folha de São Paulo, a Bravo, a Eldorado e a própria Zero Hora, entre outros veículos da grande imprensa, já fizeram sobre o assunto. Mas curioso, feito São Tomé, precisa ver de perto.
Às três da tarde, Samir identificado por um pacote idêntico ao da Fiat Lux, eu pela bolsa vermelha, nos encontramos num café da Faria Lima. Os cabelos arrepiados da foto são do moço que nasceu em Curitiba (PR), cresceu em Alfaena (MG) e calhou de trabalhar em São Paulo, mais precisamente na agência África, onde ganha dinheiro para sua invejável independência literária.

Duas horas depois, no caminho para casa, meu filho amainava a aridez do engarrafamento em voz alta:
“Devia até as calças. Pagou tudo e arrumou um bico como stripper.”“Choveu canivete. Ninguém sobreviveu para contar”.
“ Rio 40 graus. 10% do corpo coberto mexiam com 100% do meu.”Entre no
site do Samir, risque um fósforo virtual e saboreie, antes que a chama se apague, esses e outros microcontos que ele renova mensalmente: “é bônus track para quem tem o livro e aperitivo para quem não leu”. Se as palavras viciarem, também dá para assinar o
twitter e recebê-las no celular.
Nada, entretanto, substitui a experiência da caixa de fósforos. No ônibus, ao pegar a embalagem, uma leitora ouviu do passageiro ao lado: aqui não pode fumar. Já no sítio, o assador só não brigou com o dono do livro porque gostou dos textos, mas ficou sem fogo para fazer o churrasco. Eu mesma me enganei na hora de acender o cigarro.
Na
Livraria da Vila, em São Paulo, o Dois Palitos ficou dois meses na prateleira dos mais vendidos – e só mudou de lugar porque se transformou no mais roubado. Na capital gaúcha, só há duas maneiras de comprar a preciosidade: indo à
Letras & Cia ou
escrevendo para o autor, que providencia a entrega pelo correio. Em ambos os casos, o preço também é micro (10 reais). Mas o impacto do presente, aposto, será inversamente proporcional.
LETRAS & CIA
Av. Osvaldo Aranha, 444, Bom Fim
(51) 3028-9954
segunda a sexta, 10 às 20h; sábado, 10 às 15h